terça-feira, 1 de julho de 2008

Voando

Era só mais um dia chuvoso, muito normal naquela época do ano, mas para Felipe havia mais tristeza do que o frio e a chuva normalmente traziam.

Fazia exatos um ano que acabara o casamento. Lógico que não por sua vontade própria. Mas como ele poderia prender com uma assinatura no papel alguém que tinha a mente fora do seu coração?

Ele a deixou livre, como sempre fizera, e a única lembrança física dos dez curtos anos juntos foi a aliança em seu dedo. Nada mais foi deixado.

Não havia mais discos, não havia mais filmes, não havia mais Thor, o pastor-alemão que sempre fazia companhia nas corridas matinais e nas horas solitárias que passava até a chegada dela.

Ela não gostava dos discos, eram rock 'n roll demais; dormia nos filmes, dramático demais; e o cachorro babava demais, era grande demais e latia demais. Tudo era demais. Mas foi esperar demais vê-la deixar o que não gostava para trás, somente Felipe o foi.

Não se sabia, nem seus amigos mais próximos, o motivo de tanta raiva, tanta rancor, a ponto de deixar Felipe apenas com o anel de casamento.

Ele poderia explicar mil e um motivos que achava sobre o assunto, nenhum deles válidos para qualquer pessoa com amor próprio. Mas o amor próprio de Felipe foi embora com os discos, filmes e o cachorro. Ao invés de seguir em frente, ele ficou parado. Viu seus 36 anos de vida simplesmente desmoronar naquele ano. As únicas coisas que cresciam na vida dele eram as cinzas de cigarro no cinzeiro, suas olheiras e barba. Mais nada!

Então num ímpeto levantou-se. Aquilo não poderia mais continuar, já havia passado tempo demais. Já se sabia que ela estava muito bem, seis meses atrás começara um namoro. Jorge, seu amigo de infância, sempre fora apaixonado por ela, nunca negara, e hoje estão juntos. Felizes.

Arrancou a aliança do dedo. Fez barba, limpou o cinzeiro, a cara e corpo inteiro. Um banho que lhe arrancara o medo. Sentou à mesa e escreveu algo no laptop. Lenvantou-se e correu em direção à janela... Pulou!

Quinze andares depois lá estava ele, morto no chão ensagüentado. O porteiro junto ao seu corpo via escorrer pelo olhos sangue e gotas d'água. Não souberam dizer se era chuva ou lágrimas.

A polícia invadiu sua casa e não encontrou nada exceto o laptop ligado com algo escrito na tela.

"Voei em busca de um conforto que jamais tive em vida. Talvez minha carne no chão duro de cimento amoleça o coração de pedra de quem nem ao menos me deixou o amigo."

Jorge se achou culpado e nunca mais viu Marcela em toda sua vida.
Marcela envergonhada nunca tivera coragem de contar, mas sabia muito bem que era de Thor que ele falava.

6 comentários:

Ana Patrícia disse...

pow.. precisava voar pela janela não.. mandava ele bater na porta daqui de casa ;)
xêro fred!!

Amanda Moraes disse...

AMEI a surpresa do final - não a morte, mas Thor. :)

beijos

clementine. disse...

ainda bem que eles nao acabaram juntos... ela não merecia thor, quanto mais o jorge!

Mulheres que são de vênus disse...

Fred é o típico sujeito que nasceu com dois corações...

um do lado esquerdo do peito e o outro ele põe nas suas escrivinhanças...sempre...e se regenera...e se regenera...

Esse Fred é um tipo raro!

É o que eu digo, minha gente!

=P

Obrigada por ler o que escrevo (ainda)...

E sonhou comigo escrevendo?!

Que sublime!!!

Devo eu ficar lhe devendo esse snho com você enricando, então?!

Beijãoooooooooooo!

clementine. disse...

isso aqui tá com mofo já.. atchinn!

Mulheres que são de vênus disse...

oO

que texto sombrio.
que texto cheio de enlaces perfeitos.


Fred "demais" pra mim ainda é pouco.

*clap clap*

continua a escrever sempre?!
hum?!

quero te ler!

=***************